No centro de tudo, a Quadra dos Bancários

Pertinho do marco zero da capital paulista, na Praça da Sé, a Quadra dos Bancários é um grande espaço democrático situado à Rua Tabantinguera, 192

Localizada bem pertinho do marco zero da cidade de São Paulo, foi palco de muita história e segue como espaço da luta incessante dos trabalhadores por seus direitos e em defesa da cidadania e da democracia.

Se as paredes falassem… Certamente as do Centro Sindical dos Bancários teriam uma infinidade de grandes histórias para contar. Bem no centro de São Paulo e mais conhecida como Quadra dos Bancários, abrigou nos seus mais de 40 anos de existência, grandes eventos, debates, festas, recebeu presidentes da República, ministros, exibiu grandes espetáculos. Mas, foi e é, principalmente, o grande espaço de debate dos destinos da categoria bancária, de defesa dos direitos dos trabalhadores, da luta pela democracia, da cidadania do povo brasileiro.

A Quadra foi inaugurada em 11 de abril de 1983 com um encontro histórico entre figuras distintas politicamente e das mais proeminentes no combate à ditadura cívico militar que então arruinava o Brasil há quase 20 anos. O então presidente do Partido dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula da Silva – recém migrado da condição de líder metalúrgico para a de fundador do partido que o levaria à Presidência da República; o político comunista conhecido como Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes; e o senador alagoano Teotonio Vilela, que havia deixado a Arena, partido apoiador da ditadura, para no MDB (o outro único partido ainda legal no Brasil daquela época) fazer a luta pela redemocratização.

Presidente do Sindicato entre 1979 e 1985, Augusto Campos contou em entrevista à Folha Bancária, na edição especial dos 90 anos do Sindicato, por que a Quadra foi construída. Em setembro do primeiro ano de seu mandato, os bancários se organizavam para fazer a primeira greve da categoria após a chamada “retomada” da entidade para os trabalhadores. Uma grande assembleia, no pátio do Colégio São Bento, votou o início da paralisação para 13 de setembro. Mas a repressão policial e dos bancos foi imensa e um quebra-quebra generalizado no centro da cidade inviabilizou o movimento.

“Houve confronto tão intenso que os padres não quiseram mais alugar o espaço para nós. Na Casa de Portugal também não podia ser, os portugueses não queriam mais a gente lá, pois tinha cada vez mais pessoas nas assembleias e o espaço ficava pequeno, apertado”, contou Augusto Campos. “Passamos a procurar lugar próprio e compramos um terreno, no qual funcionava um estacionamento, na Rua Tabatinguera. Foi ali que fizemos a Quadra, inaugurada em evento marcante para mim. Ver naquele lugar, nosso, figuras históricas como Lula e Luís Carlos Prestes debatendo com a categoria foi especial”, lembra esse grande líder do movimento sindical bancário, morto 18 de julho de 2017.

Quadra foi inaugurada nos 60 anos do Sindicato num debate com Lula, Prestes e Teotônio Vilela sobre a luta contra a ditadura que assolou o Brasil por mais de duas décadas

Casa de solidariedade

Do início grandioso aos dias de hoje, em seus 41 anos de existência a Quadra dos Bancários é um “personagem” marcante no dia a dia da luta incessante dos trabalhadores por seus direitos.

Lá, a categoria bancária viu nascer, em 1992, e se fortalecer ano a ano, campanha a campanha, em cada assembleia, a Convenção Coletiva de Trabalho, com validade nacional para toda a categoria.

A Quadra também foi espaço de reunião para outras categorias avançarem em suas conquistas. E abrigo seguro para lideranças políticas e movimentos sociais na eterna construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Foi também na Quadra dos Bancários que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se pela primeira vez e por outras tantas ocasiões com os catadores de recicláveis dando um tom especial às festividades de Natal.

Durante os anos da pandemia da covid-19, foi na Quadra dos Bancários que um movimento gigantesco de solidariedade entregou a milhares de cidadãos em situação de vulnerabilidade, água, comida, agasalhos.

A Quadra é de luta dos bancários e dos movimentos sociais, é lugar de comemorar as conquistas da categoria, da democracia, é espaço de cidadania

De luta e de festa

E a Quadra é também festeira. Nos anos 1980, recebeu em seu palco artistas como Lô Borges, Belchior, Ed Motta. Bandas do naipe do Ira! e Língua de Trapo. Em novembro de 1988, foi ali que o “maluco beleza” Raul Seixas fez uma de suas últimas apresentações ao lado de Marcelo Nova.  

Teve festa ao som do sanfoneiro Mário Zan, com o Trio Virgulino, e samba com Leci Brandão, Negritude Júnior, e as escolas do carnaval paulista Tom Maior e Vai-Vai.

Na Quadra, os bancários se preparam para desfiles carnavalescos, disputaram campeonatos de truco, futebol, vôlei. Comemoraram aniversários do Sindicato, as conquistas das mulheres, do movimento negro e LGBTQIA+.

A cada eleição do Sindicato, quando milhares de trabalhadores bancários vão às urnas democraticamente definir quem serão seus representantes e os rumos da categoria, a Quadra foi espaço seguro para fazer valer essa vontade. Desde a organização do pleito, à distribuição das milhares de cédulas e das urnas, até a apuração dos votos e as comemorações da vitória.

As últimas três eleições fizeram história ao eleger mulheres para estarem à frente do Sindicato, da Quadra e da luta dessa que é uma das maiores categorias de trabalhadores em todo o Brasil.

A Quadra é o espaço dos bancários para comemorar suas vitórias, sua organização ao lado do Sindicato, a conquista daquele suado campeonato e para carnavalizar

Assembleias históricas

Durante seis anos os banespianos, com total apoio do Sindicato, resistiram bravamente contra a privatização do maior banco estadual do país

De categoria aguerrida, os bancários protagonizaram momentos que ficaram para a história de resistência os trabalhadores na luta contra um dos maiores poderosos setores da economia mundial: o financeiro.

Assembleias lotadas votaram paralisações e greves que arrancaram dos bancos direitos que se tornaram referência para empregados de outros setores. Nossa CCT é a tal CLT Premium como hoje em dia resolveram classificar aqueles trabalhadores contratados de forma regular e com garantias como PLR, plano de saúde, vales-alimentação, refeição, auxílio-creche. 

Também a resistência em defesa do patrimônio nacional, como a luta dos banespianos, como eram chamados os funcionários do Banespa (Banco do Estado de São Paulo), que paralisaram suas atividades contra a privatização do que foi o maior banco público estadual do país. Foram cerca de seis anos de oposição à venda que se concretizou em novembro de 2000, para o Santander. E um exemplo de luta que segue até os dias atuais na defesa de empregos e direitos constantemente atacados pelo banco espanhol.

Na Quadra, os bancários comemoraram e ainda comemorarão as vitórias alcançadas, ao lado do Sindicato, em ações trabalhistas de ressarcimento de direitos.

E se o assunto é história, a Quadra sediou também o lançamento da primeira publicação criada pelo movimento sindical, notadamente bancários e metalúrgicos, para falar do mundo sob a ótica dos trabalhadores. Foi lá o lançamento da primeira edição da Revista do Brasil, em junho de 2006, que depois cresceria para se tornar a Rede Brasil Atual, atualmente em processo de fusão com a TVTNews.

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