Localizada bem pertinho do marco zero da cidade de São Paulo, foi palco de muita história e segue como espaço da luta incessante dos trabalhadores por seus direitos e em defesa da cidadania e da democracia.
Se as paredes falassem… Certamente as do Centro Sindical dos Bancários teriam uma infinidade de grandes histórias para contar. Bem no centro de São Paulo e mais conhecida como Quadra dos Bancários, abrigou nos seus mais de 40 anos de existência, grandes eventos, debates, festas, recebeu presidentes da República, ministros, exibiu grandes espetáculos. Mas, foi e é, principalmente, o grande espaço de debate dos destinos da categoria bancária, de defesa dos direitos dos trabalhadores, da luta pela democracia, da cidadania do povo brasileiro.
A Quadra foi inaugurada em 11 de abril de 1983 com um encontro histórico entre figuras distintas politicamente e das mais proeminentes no combate à ditadura cívico militar que então arruinava o Brasil há quase 20 anos. O então presidente do Partido dos Trabalhadores Luiz Inácio Lula da Silva – recém migrado da condição de líder metalúrgico para a de fundador do partido que o levaria à Presidência da República; o político comunista conhecido como Cavaleiro da Esperança, Luís Carlos Prestes; e o senador alagoano Teotonio Vilela, que havia deixado a Arena, partido apoiador da ditadura, para no MDB (o outro único partido ainda legal no Brasil daquela época) fazer a luta pela redemocratização.
Presidente do Sindicato entre 1979 e 1985, Augusto Campos contou em entrevista à Folha Bancária, na edição especial dos 90 anos do Sindicato, por que a Quadra foi construída. Em setembro do primeiro ano de seu mandato, os bancários se organizavam para fazer a primeira greve da categoria após a chamada “retomada” da entidade para os trabalhadores. Uma grande assembleia, no pátio do Colégio São Bento, votou o início da paralisação para 13 de setembro. Mas a repressão policial e dos bancos foi imensa e um quebra-quebra generalizado no centro da cidade inviabilizou o movimento.
“Houve confronto tão intenso que os padres não quiseram mais alugar o espaço para nós. Na Casa de Portugal também não podia ser, os portugueses não queriam mais a gente lá, pois tinha cada vez mais pessoas nas assembleias e o espaço ficava pequeno, apertado”, contou Augusto Campos. “Passamos a procurar lugar próprio e compramos um terreno, no qual funcionava um estacionamento, na Rua Tabatinguera. Foi ali que fizemos a Quadra, inaugurada em evento marcante para mim. Ver naquele lugar, nosso, figuras históricas como Lula e Luís Carlos Prestes debatendo com a categoria foi especial”, lembra esse grande líder do movimento sindical bancário, morto 18 de julho de 2017.
Casa de solidariedade
Do início grandioso aos dias de hoje, em seus 41 anos de existência a Quadra dos Bancários é um “personagem” marcante no dia a dia da luta incessante dos trabalhadores por seus direitos.
Lá, a categoria bancária viu nascer, em 1992, e se fortalecer ano a ano, campanha a campanha, em cada assembleia, a Convenção Coletiva de Trabalho, com validade nacional para toda a categoria.
A Quadra também foi espaço de reunião para outras categorias avançarem em suas conquistas. E abrigo seguro para lideranças políticas e movimentos sociais na eterna construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Foi também na Quadra dos Bancários que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se pela primeira vez e por outras tantas ocasiões com os catadores de recicláveis dando um tom especial às festividades de Natal.
Durante os anos da pandemia da covid-19, foi na Quadra dos Bancários que um movimento gigantesco de solidariedade entregou a milhares de cidadãos em situação de vulnerabilidade, água, comida, agasalhos.
A Quadra é de luta dos bancários e dos movimentos sociais, é lugar de comemorar as conquistas da categoria, da democracia, é espaço de cidadania
De luta e de festa
E a Quadra é também festeira. Nos anos 1980, recebeu em seu palco artistas como Lô Borges, Belchior, Ed Motta. Bandas do naipe do Ira! e Língua de Trapo. Em novembro de 1988, foi ali que o “maluco beleza” Raul Seixas fez uma de suas últimas apresentações ao lado de Marcelo Nova.
Teve festa ao som do sanfoneiro Mário Zan, com o Trio Virgulino, e samba com Leci Brandão, Negritude Júnior, e as escolas do carnaval paulista Tom Maior e Vai-Vai.
Na Quadra, os bancários se preparam para desfiles carnavalescos, disputaram campeonatos de truco, futebol, vôlei. Comemoraram aniversários do Sindicato, as conquistas das mulheres, do movimento negro e LGBTQIA+.
A cada eleição do Sindicato, quando milhares de trabalhadores bancários vão às urnas democraticamente definir quem serão seus representantes e os rumos da categoria, a Quadra foi espaço seguro para fazer valer essa vontade. Desde a organização do pleito, à distribuição das milhares de cédulas e das urnas, até a apuração dos votos e as comemorações da vitória.
As últimas três eleições fizeram história ao eleger mulheres para estarem à frente do Sindicato, da Quadra e da luta dessa que é uma das maiores categorias de trabalhadores em todo o Brasil.
A Quadra é o espaço dos bancários para comemorar suas vitórias, sua organização ao lado do Sindicato, a conquista daquele suado campeonato e para carnavalizar
Assembleias históricas
De categoria aguerrida, os bancários protagonizaram momentos que ficaram para a história de resistência os trabalhadores na luta contra um dos maiores poderosos setores da economia mundial: o financeiro.
Assembleias lotadas votaram paralisações e greves que arrancaram dos bancos direitos que se tornaram referência para empregados de outros setores. Nossa CCT é a tal CLT Premium como hoje em dia resolveram classificar aqueles trabalhadores contratados de forma regular e com garantias como PLR, plano de saúde, vales-alimentação, refeição, auxílio-creche.
Também a resistência em defesa do patrimônio nacional, como a luta dos banespianos, como eram chamados os funcionários do Banespa (Banco do Estado de São Paulo), que paralisaram suas atividades contra a privatização do que foi o maior banco público estadual do país. Foram cerca de seis anos de oposição à venda que se concretizou em novembro de 2000, para o Santander. E um exemplo de luta que segue até os dias atuais na defesa de empregos e direitos constantemente atacados pelo banco espanhol.
Na Quadra, os bancários comemoraram e ainda comemorarão as vitórias alcançadas, ao lado do Sindicato, em ações trabalhistas de ressarcimento de direitos.
E se o assunto é história, a Quadra sediou também o lançamento da primeira publicação criada pelo movimento sindical, notadamente bancários e metalúrgicos, para falar do mundo sob a ótica dos trabalhadores. Foi lá o lançamento da primeira edição da Revista do Brasil, em junho de 2006, que depois cresceria para se tornar a Rede Brasil Atual, atualmente em processo de fusão com a TVTNews.