O novo sindicalismo 1983-1992

A vitória da oposição bancária

As greves dos metalúrgicos do ABC e de São Paulo no final dos anos 1970 recolocaram os trabalhadores no cenário público nacional. Em um contexto de luta pela redemocratização do país, as ações da diretoria do Sindicato dos Bancários durante a greve de 1978 seriam a gota d’água para a categoria.

Em 1979, depois de a situação ter adiado as eleições sindicais programadas para 1978, a Oposição Bancária ganharia o pleito, sob a presidência de Augusto Campos.

Naquele ano, depois de realizar um Congresso Municipal para estabelecer as reivindicações, a nova direção do Sindicato iniciou a campanha salarial. Face às negativas dos banqueiros, foi declarada greve, em setembro. E violentamente reprimida. A ação policial degenerou em um incontrolável quebra-quebra no centro de São Paulo, levando ao encerramento da greve. Quatro diretores tiveram seus mandatos cassados pelo Ministério do Trabalho e, apesar de algumas pequenas conquistas, a greve foi marcada por insucessos.

Por outro lado, a experiência adquirida nesse movimento permitiu ao Sindicato avançar no conhecimento do cotidiano dos bancários, na organização dos locais de trabalho, na coordenação nacional da categoria e no diálogo com a sociedade para a obtenção de seu apoio.

1983

1983: Greve geral, intervenção no Sindicato e resistência no ano da fundação da CUT

O ano de 1983 foi pontuado por uma série de intervenções da ditadura na política salarial. Para enfrentar a severa crise econômica que castigava o país, o governo militar recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI), intensificando as políticas recessivas do regime.

Diante da forte reação do movimento sindical, que aprofundava sua organização e lutas, a ditadura, mesmo nos seus últimos momentos, ainda reagia com sua característica força e autoritarismo. Assim ocorreu quando os bancários, juntamente com outras categorias, organizaram a primeira greve geral desde 1964, no dia 21 de julho de 1983, contra a política salarial do governo. Na véspera, a polícia invadiu o Sindicato e prendeu diretores e funcionários. No dia seguinte o Ministério do Trabalho interveio no Sindicato, cassando a diretoria no dia 19 de agosto.

No entanto, nem a diretoria cassada, tampouco a categoria, o movimento sindical e a sociedade se deixaram intimidar. A partir das ruas a diretoria cassada continuou dirigindo a categoria e manteve a publicação e a circulação diária da Folha Bancária, acrescentando ao título “Livre”. Mesmo com a proibição por parte dos interventores da utilização do espaço do Sindicato, outros lugares foram ocupados para a realização da campanha salarial de 1983.

À intransigência dos banqueiros somou-se a dos interventores, que não permitiram a presença da diretoria cassada nas negociações. Isso levou a campanha de 1983 ao dissídio no Tribunal Regional do Trabalho, que concedeu os mesmos termos acordados para os bancários do interior do estado.

Com o apoio do Sindicato, em 28 de agosto de 1983, Dia do Bancário,  era fundada, em São Bernardo do Campo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

1984

Acabando com a ditadura... no país e no Sindicato: Diretas Já!

Entre os anos de 1983 e 1984, os brasileiros, nos sindicatos e nas ruas, disseram com muita clareza à ditadura que dela estavam fartos. Meses depois da fundação da CUT, em um comício defronte o estádio do Pacaembu, na cidade de São Paulo, no dia 27 de novembro, iniciou-se o movimento das Diretas Já, que durante meses levou milhões de brasileiros às ruas e praças públicas. Mesmo com a derrota do movimento e a eleição indireta de Tancredo Neves e José Sarney pelo Colégio Eleitoral, as Diretas Já! representaram o golpe final na ditadura. O Sindicato teve participação ativa nesse movimento.

Na campanha salarial de 1984, a diretoria cassada dos bancários, com o apoio da Federação dos Bancários do Estado de São Paulo, conseguiu sentar-se à mesa de negociações e, apoiada em uma articulação nacional, realizou mobilizações e paralisações que resultaram em acordos positivos para a categoria.

Em meio a essa luta, em 7 de dezembro de 1984, surgiu a notícia do fim da intervenção e da convocação de eleições para fevereiro de 1985. Ao pleito houve somente uma chapa inscrita: Resistência, presidida por Luiz Gushiken, venceu e tomou posse em 8 de março de 1985.

1985

A greve de 1985: Se não sacou...

Os militares deixaram de governar o Brasil, mas sua política econômica de arrocho salarial e inflação alta persistiu no governo da Aliança Democrática, que congregava PMDB e PFL. A situação era tão grave que o Sindicato chegou a incluir em sua pauta de reivindicações o reajuste trimestral dos salários. Mais que isso, o Sindicato investiu fortemente na organização nacional dos bancários, os quais desde 1982 já haviam unificado suas datas-base. Igualmente, trabalhou com afinco para conquistar a opinião pública para as suas causas, caracterizando o banqueiro como o “inimigo público nº 1” – aquele que aviltava seus funcionários e desprezava seus clientes.

Na campanha salarial de 1985, à medida que a intransigência dos banqueiros arrastava as negociações, o Sindicato preparava a opinião pública para a greve, que acabou ocorrendo no dia 11 de setembro, a primeira paralisação nacional desde a década de 1960. Encerrado após dois dias, o movimento teve enorme visibilidade pública, contando com notável simpatia popular. Em São Paulo, enormes passeatas tomaram conta do centro financeiro da cidade. Conhecida por seu caráter festivo, a greve de 1985 foi um marco na história da categoria, uma grande experiência de luta que colocou o Sindicato entre as entidades de proa do movimento sindical do país.

1986-1987

Os bancários na “Nova República”: crise econômica e luta por direitos

O governo de José Sarney, saído do acordo de elites que o elegeu no Colégio Eleitoral de 1985, herdou uma economia corroída por um gigantesco endividamento.

Por menos ortodoxas que aparentemente fossem as saídas que o governo buscava para solucionar os problemas econômicos, as vias escolhidas resultaram, invariavelmente, em arrocho salarial, desemprego e inflação. Assim foi com a profusão de planos econômicos, Cruzado I, Cruzado II, Verão… E a reação dos bancários e dos trabalhadores brasileiros não podia ser outra: protestos, organização e greves.

Em março de 1987, os bancários realizaram nacionalmente, pela primeira vez, uma greve de nove dias fora da data-base, que ficou conhecida como “bola de neve”, pela forma como cresceu. Nas campanhas salariais de 1987, 1988 e 1989 ocorreram greves da categoria em defesa de suas reivindicações, bem como em abril de 1989 ocorreu outra paralisação nacional dos bancários fora da data-base.

Em janeiro de 1988 o Sindicato realizou eleições, escolhendo Gilmar Carneiro para presidir a entidade da categoria.

1988

Os bancários e a Constituinte

Entre 1986 e 1988, os bancários participaram de forma ativa no processo da Constituinte. Isso se deu tanto através da atuação do Comitê Bancário em Defesa do Povo na Constituinte, onde foram travadas discussões a respeito dos temas de interesse da categoria. E também na participação em atividades de divulgação e coleta de assinaturas para as emendas populares.

Além disso, a eleição de Luiz Gushiken, ex-presidente do Sindicato, como deputado federal constituinte, marcou a presença da categoria na elaboração da nova Carta. Assim, os bancários atuaram ativamente nos debates sobre as eleições diretas para presidente, os direitos dos trabalhadores, liberdade e autonomia sindical, não pagamento da dívida externa, reforma agrária e urbana, estatização do sistema financeiro, bem como em outras questões fundamentais para a cidadania.

1990-1992

O início dos anos neoliberais e a luta dos bancários

As eleições diretas para presidente da República em 1989, que levaram ao poder Fernando Collor de Mello, representaram a vitória, no Brasil, de um projeto neoliberal. Tais ideias expandiam-se, desde os anos 1980, em escala planetária e buscavam diminuir o papel do Estado, atacar os direitos sociais e “maximizar” a intervenção do mercado na sociedade.

Pela primeira vez desde 1982, duas chapas, ambas no campo da CUT, disputaram, em 1990, as eleições do Sindicato. A vitória foi da diretoria encabeçada por Gilmar Carneiro.

Logo nos primeiros dias, o governo de Fernando Collor decretou um novo pacote econômico cujos resultados não diferiram dos anteriores: arrocho, desemprego e inflação. E, do mesmo modo, a reação dos bancários e demais trabalhadores foi mobilização, organização e greves.

Em maio, a CUT convocou uma greve geral contra as medidas do pacote e em junho os bancários realizaram uma paralisação nacional, conquistando antecipação salarial. Na campanha salarial de 1990, sob o bordão Essa Primavera Tem Que Ser Nossa!, os bancários inovaram na greve – que durou 13 dias – com atores, cortejos, bonecos, espetáculos, bandas de música e muita animação. Assim, contrapunham-se ao aparato midiático dos banqueiros que qualificava aquela mobilização com o epíteto de Setembro Negro. O resultado foi a conquista de 105% de reajuste, entre outras vitórias.

Na campanha salarial de 1991, além das conquistas, destacou-se o fato de que pela primeira vez, no caso dos bancos privados, não se recorreu à Justiça do Trabalho para o fechamento do acordo, mesmo depois de uma greve de três dias. As denúncias de fraudes e de corrupção envolvendo o governo Collor desencadearam uma ampla mobilização na sociedade brasileira, com ativa participação dos bancários, que levou ao impeachment do presidente em 1992.

 

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