O sindicato é feito de lutas

Protestos pacíficos não podem ser caso de polícia

Confira alguns dos piores momentos: bancários são vítimas da violência da PM toda vez que os bancos desviam o uso desse serviço público para atacar a legítima atuação sindical

A violência sofrida pelos trabalhadores em frente ao Radar Santander, no dia 22 de agosto de 2024, não é uma novidade na história do Sindicato. Em muitas outras campanhas e atos pacíficos, como esse, a Polícia Militar foi acionada pelos bancos para fazer um papel que está muito distante de sua função primordial. O resultado é terrível porque vitima, muitas vezes com graves agressões físicas, quem está atuando em defesa dos trabalhadores. Os dirigentes sindicais têm uma vida de luta pelos direitos e salários dos bancários e das bancárias. Uma luta desigual, diante do poderio econômico dos bancos. E que se torna ainda mais injusta quando a PM é acionada, aceita fazer esse papel que não é o seu e ainda usa e abusa da violência.

“Ou alguém acha que não havia outros lugares na cidade de São Paulo, que tanta insegurança transmite aos cidadãos, para aquele imenso contingente policial realizar seu trabalho?”, questiona a presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro.

“Estávamos no Radar Santander em nossa legítima atuação sindical e isso foi absurdamente desrespeitado. É papel do Sindicato informar e esclarecer os bancários sobre seus direitos, ainda mais quando estão sendo aviltados, como na tentativa de terceirização de mão de obra promovida pelo Santander”, ressalta a dirigente.

“Eles é que não tinham de estar no Radar Santander, assim como não tinham de estar em nenhum outro dos atos que o Sindicato promove em defesa dos direitos e dos salários da nossa categoria. A PM tem de atuar na defesa das pessoas, no combate ao crime, e não massacrando trabalhadores em campanha”, reforça.

A violência da PM convocada pelo banco espanhol resultou em trabalhadores agredidos e machucados, inclusive mulheres. O banco espanhol, no entanto, sequer enviou um representante para intermediar o conflito.

Tiro no pé

A imagem do Santander saiu manchada dessa ação truculenta contra os trabalhadores. Os vídeos com a atuação da PM tomaram as redes sociais e foram exibidos pela imprensa. Uma cena marcante foi a utilização de arma de choque contra o bancário e deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT), que estava no ato para apoiar a campanha da sua categoria.

A campanha nacional dos bancários está na sua 13ª rodada de negociação com os bancos. E em todo o país ações sindicais retardam a abertura de agências e centros administrativos para necessário diálogo com os trabalhadores. O setor, um dos que mais lucra no Brasil, até agora tem tentado impor perdas aos bancários, com proposta de reajuste salarial abaixo da inflação.

Neiva lembra de outras ocasiões em que a PM foi usada pelos bancos para pressionar os bancários e coibir a atuação sindical. “Isso é terrível para os trabalhadores que sofrem com tamanha violência. É horrível para a PM que deveria realizar um trabalho mais nobre. Mas também é péssimo para a imagem dos bancos. Enfim, lamentável em todos os sentidos”, diz Neiva. “Vamos continuar fazendo nosso trabalho em prol dos bancários e das bancárias. Nem os bancos, nem a PM vão nos proibir de fazer o que é certo. Seguimos na luta.” 

Confira alguns de outros tantos aburdos momentos da truculência da PM na campanha dos bancários

Violência no Radar Santander

 

O que aconteceu no centro administrativo do banco espanhol, na manhã desta quinta-feira, 22 foi mais uma das muitas cenas enfrentadas por bancários e seus representantes sindicais: a PM usando de violência para tentar dissolver uma manifestação legítima dos trabalhadores em campanha salarial. Dessa vez, no entanto, a situação acabou viralizando diante da agressão ao bancário do Itaú e deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT-SP). Ele foi atingido ao menos quatro vezes por uma arma de choque utilizada por um dos policiais.

“Estava tudo pacífico, quando por volta das 9h um policial tentou forçar um dos colegas a entrar no banco. Eu me apresentei como deputado e mostrei minha carteira durante a conversa com o major”, relatou o parlamentar à imprensa. “E o alertei sobre o tenente com a arma de choque. Foi quando ele me acertou, quatro vezes. Um policial que não estava preparado para esse tipo de ação.”

Além da campanha salarial, o protesto dos bancários denunciava o Santander por fraude nos contratos de trabalho. O banco espanhol está transferindo funcionários para outras empresas do mesmo conglomerado, cada uma com um CNPJ diferente e vinculada a um sindicato distinto. É uma forma encontrada pelo banco para fragmentar seus trabalhadores – enfraquecendo a representação sindical – e reduzir direitos e remuneração.

“Ficou péssimo para o Santander”, afirma a presidenta do Sindicato, Neiva Ribeiro. “Recebemos apoio de milhares de pessoas e entidades de todo o Brasil e o banco ficou mais uma vez com a imagem manchada pela agressão aos trabalhadores.”

Santander agressor há tempos

Em 22 de outubro de 2009, a dirigente Maria Rosani Gregorutti – atualmente presidenta da Afubesp – foi presa durante uma manifestação pacífica dos bancários em frente a uma agência do antigo banco Real, na Boa vista. Era a primeira semana de greve da categoria. Por ordem do Santander, que havia adquirido o Real, a PM avançou contra as mulheres que conversavam com os bancários na porta da agência, usando inclusive spray de pimenta e cassetetes. A dirigente foi levada pela polícia e liberada posteriormente. O Sindicato pediu abertura de processo administrativo contra o tenente DmytraczenKo, comandante do batalhão responsabel pelo violência. 

Novamente, em setembro 2016, Rosani foi vítima da PM a mando do Santander. Dessa vez, na Torre, colosso de 28 andares onde trabalhavam à época 5,3 mil bancários e mais 1,7 mil terceirizados, além de sede da administração e da diretoria do banco espanhol.Era a primeira vez que aquele centro administrativo tinha as atividades interrompidas.

O Sindicato tomou as medidas judiciais cabíveis, já que a dirigente estava no exercício legítimo do direito de greve. Rosani foi algemada e levada para a delegacia por quatro PMs, dos quais três homens que usaram de violência para imobilizar uma mulher de cerca de 1,60m e 50 anos a época. Ouvida e liberada, a dirigente recebeu a solidariedade dos colegas de banco. “É uma covardia fazer isso com uma mulher”, gritou uma bancária.  “A coisa mais absurda que eu estou vendo aqui é esse monte de viaturas desviadas para um motivo desnecessário”, indignou-se outra. “Deveriam estar cumprindo seu papel, que é correr atrás de bandido e garantir a segurança da população.”

A mando do Bradesco, violência atinge dirigentes, bancários, clientes, imprensa

O despreparo da polícia para lidar com atividades sindicais e de movimentos sociais é imenso e já deu várias mostras do estrago que pode provocar. Em 6 outubro de 2005, no primeiro dia de greve dos bancários, a atuação da PM deixou pelo menos 10 pessoas feridas. Dessa vez, a mando do Bradesco. Para cumprir ordem do banco de abrir agências fechadas pelo movimento grevista, os PMs abusaram da truculência,. Bancários, dirigentes sindicais, clientes e até jornalistas que faziam a cobertura da greve acabaram machucados pela violência policial na agência da rua 15 de Novembro, centro de São Paulo. Como o auto-atendimento funcionava normalmente, até mesmo idosos que usavam o serviço acabaram vítimas do arrastão promovido por cerca de 30 policiais, e que contou com empurrões, chutes e uso de cassetetes. Marcos Amaral, dirigente do Sindicato e funcionário do próprio banco, foi preso com extrema violência.

O bancário Dirceu Travesso (morto em 2014), funcionário da Nossa Caixa que participava do movimento grevista, também foi preso na porta do banco. Os dois foram soltos após as medidas judiciais adotadas pelo Sindicato. Na unidade do Bradesco na rua Boa Vista, os bancários haviam sido obrigados a chegar às 3h da madrugada numa tentativa de furar a greve. E a agência abriu com força policial.

Naquele ano, a mando do Bradesco, a PM abusou da violência contra os trabalhadores e outros dirigentes do Sindicato foram presos, a exemplo de  Hugo Tomé Aquino e Jackeline Machado.

Dirigente sindical agredido e preso no ABN Real

Em uma das mais longas e duras greves da categoria bancária, o dirigente sindical Edson Carneiro, mais conhecido como Índio, foi agredido e levado preso pela PM durante paralisação no ABN Real da Avenida Paulista. Era 28 de setembro de 2004, o 14º dia de uma greve que duraria 30 dias em todo o Brasil. Assessorado pelo departamento jurídico do Sindicato, Índio prestou queixa na mesma delegacia para onde foi levado. E passou por exame de corpo delito para comprovar a gravidade das contusões sofridas durante a agressão policial.

O Sindicato oficiou o governador do estado à época, Geraldo Alckmin, responsabilizando a Secretaria de Segurança Pública por qualquer incidente contra os dirigentes sindicais, os trabalhadores e a população durante os atos do legítimo direito de greve.

Índio relata ter sido detido outras duas vezes durante sua atuação sindical. E sempre com agressões.

PM agride dirigente sindical no Itaú Unibanco

PM agride dirigente sindical no Itaú Unibanco

A violência policial nas manifestações dos trabalhadores é infelizmente antiga. Em 26 de outubro de 2001, faltava pouco para o encerramento da atividade sindical da campanha salarial daquele ano. Os policiais, no entanto, alegando “ordem para desobstrução” das entradas do prédio do Unibanco da Praça do Patriarca, partiu para a agressão contra os manifestantes. Golpes de cassetete, spray de pimenta geraram clima de terror. Bancário do Unibanco, o dirigente sindical Daniel Reis foi agarrado por um grupo de PMs, arrastado para dentro do prédio e violentamente agredido. O bancário sofreu fraturas em duas costelas, antes de ser liberado pelos policias agressores.

O Sindicato registrou boletins de ocorrência e entrou em contato com a Ouvidoria da Polícia, à época, denunciando o despreparo da PM, além da utilização da corporação para defender interesses privados.

Polícia invade Sindicato e tenta levar jornalista

A truculência da PM sempre presente nas campanhas salariais dos bancários invadiu o Sindicato em 28 de abril de 2017. Sem mandato e sob o argumento de “proteger o patrimônio público”, soldados armados e sem mandado entraram na sede da entidade perseguindo cidadãos que se manifestavam na rua São Bento.

“Os trabalhadores estavam na porta do Sindicato se manifestando quando cerca de cinco policias militares correram atrás deles e entraram na entidade armados revistando os militantes, de forma truculenta e agressiva”, informou nota do Sindicato à época. “A ação foi gravada por funcionários, que tiveram de mostrar seus documentos para policiais que não quiseram se identificar.”

O jornalista William de Lucca, que era funcionário do departamento de imprensa do Sindicato, foi ameaçado de prisão e protegido por Juvandia e Ivone Silva, então secretária-geral da entidade.

“Não podemos aceitar que policiais armados invadam uma entidade dos trabalhadores, ameaçando e pedindo explicações para dirigentes, jornalistas e funcionários. Espero que isso não se repita e vamos denunciar para que isso não ocorra com nenhum trabalhador”, disse Juvandia Moreira, presidenta do Sindicato à época.

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