Há mais de 100 anos, a luta das mulheres bancárias tem lugar, voz e espaço garantidos no Sindicato, resultando em avanços para elas e conquistas fundamentais para toda a categoria

Desde o começo de sua história em 1923, há mais de 100 anos, o Sindicato é exemplo de participação das mulheres. Diferentemente de tantas entidades à época, as bancárias puderam filiar-se à então Associação dos Funcionários de Bancos já a partir da sua origem. Em 1924, quando é inaugurado o Clube Bancário – com o objetivo de organizar reuniões, festas, bailes, excursões –, a bancária Beatriz Macchia fez parte da diretoria.

O jornal Vida Bancária (o embrião da nossa Folha Bancária) trazia nos anos 1930 uma coluna específica para conclamar a participação feminina na luta por mais direitos. A edição número 123, de agosto de 1934, dizia: “Não um combate sistemático ao homem, ao casamento, à feminilidade, mas arrastar todas as bancárias à luta consciente pelas conquistas de seus direitos políticos e econômicos, à liberdade de agir e pensar, permanecendo ‘mulher’ no sentido amplo e moderno da palavra (…). Coordenando nossas forças através das associações de classe, levaremos avante uma luta concreta pelos direitos da mulher (…): equiparação salarial e direito à maternidade.”

A gestão 1957-1959 cria logo após sua eleição o Departamento Feminino do Sindicato. E entre os diretores eleitos da entidade estavam as bancárias Consuelo Toledo e Silva e Maria Aparecida Galvão, essa, então, a única mulher a fazer parte da redação da Folha Bancária.
De lá para cá, e adiante, com certeza, essa luta sempre desigual rende frutos graças à garra das mulheres da categoria. O Sindicato por exemplo, faz o que cobra dos bancos e mantém em seus quadros, há anos, mulheres nos cargos de chefia. Dirigentes bancárias chegaram à presidência do Sindicato em 2010, com Juvandia Moreira, e depois Ivone Silva, em 2017. Na atual gestão (2023/2027) encabeçam, além da presidência, com Neiva Ribeiro, dez das 12 secretarias executivas da entidade. A diretoria é composta por 48% de mulheres

Essa representação reflete a realidade da categoria. Atualmente, dos 427.347 empregados de bancos no Brasil, 202.871 são mulheres, ou 47,5% da categoria. Na base do Sindicato são 66.519, ou 47,9% de bancárias em São Paulo, Osasco e região.
Tamanha representatividade transforma-se em luta e traz para a realidade avanços antes inimagináveis. Um exemplo está na Convenção Coletiva de Trabalho assinada em 2024, com validade até 2026. Foram incorporadas à CCT novas cláusulas de combate ao assédio sexual, moral e à violência doméstica. As mulheres terão direito a requalificação garantida para a área eminentemente masculina da tecnologia da informação.
“Garantir que mulheres tenham acesso a oportunidades em TI não é apenas uma questão de justiça social, mas também de inovação e competitividade”, afirma Neiva Ribeiro. “Diversidade gera melhores soluções e amplia a capacidade de resposta às transformações tecnológicas, beneficiando a sociedade como um todo.”
A CCT também determina a igualdade salarial entre homens e mulheres que atuam em funções equivalentes. Igualdade atualmente também garantida por lei que começou a ser debatida, na década de 1990, no Sindicato e nos encontros de mulheres do movimento sindical da CUT.

“Mantemos um trabalho permanente de formação das mulheres e de empoderamento. Hoje temos muitas mulheres no Comando Nacional, que negociam com os bancos e são grandes lideranças nacionais. Isso tudo tem a ver com essa pauta que a gente leva adiante há anos”, ressalta Neiva.
Longo caminho
Contando assim, parece até ter sido fácil. Mas não foi. A própria categoria só viu o aumento de mulheres trabalhando em bancos após uma reforma do sistema financeiro, em 1964, quando elas passaram a compor 40% dos postos de trabalho.
Ao final da década de 1970 o Departamento Feminino do Sindicato é desativado. A luta teria de ser incorporada por toda a entidade. Em 1981, ocorre o I Encontro da Mulher Bancária. Em debate: creche nos locais de trabalho, a discriminação das mulheres nos bancos, salário e carreira, assédio masculino, controle de natalidade X planejamento familiar, direitos da mulher.

Eram tempos em que as mulheres, ao engravidar, sofriam pressão para demitir-se ou mudar de local de trabalho com salário reduzido. Foi o caso de Iracema Goth, bancária do extinto banco Bandeirantes. O sofrimento imposto à trabalhadora foi tanto que ela quase sofreu um aborto. Ciente de seus direitos e apoiada pelo Sindicato, Iracema foi à luta e saiu vitoriosa. A saga do Caso Iracema foi contada em uma série de reportagens que rendeu à Folha Bancária o Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos.
Foi assim, ao lado do Sindicato, lutando por todas e cada uma que as mulheres arrancaram conquistas e viram seu papel e direitos serem ampliados nos bancos. Em 1986 garantiram o direito ao auxílio-creche/babá. O vale-refeição também representou uma nova conquista em 1987, assim como o vale-alimentação em 1994 e sua extensão para as bancárias em licença-maternidade em 1995.

Os anos 2000 começam com a inclusão da cláusula de Igualdade de Oportunidades na CCT. Vem em 2006 a implantação do primeiro grupo de trabalho para debater assédio moral e que levaria, mais adiante, ao debate sobre assédio sexual nos locais de trabalho. Em 2009, a categoria bancária se torna a primeira a ter direito à licença-maternidade ampliada, de 180 dias, período em que têm preservados estabilidade e direitos como vale-alimentação e vale-creche. Nesse mesmo ano ocorre a divulgação do primeiro Mapa da Diversidade, conquista da categoria para embasar as discussões sobre igualdade de oportunidades em todos os bancos. Elas garantem, em 2014, que mulheres que forem demitidas e engravidarem durante o aviso prévio proporcional serão readmitidas. Em 2016 é conquistada a licença-paternidade de 20 dias. Para ter direito, os papais devem participar do curso de paternidade responsável, promovido por várias entidades e instituições, inclusive pelo Sindicato.

Criado em 2019, o projeto Basta! Não irão nos Calar alcançou em 2023, ano do centenário do Sindicato, a marca de 400 mulheres atendidas. Trabalhadoras que buscaram, via Sindicato, suporte, acolhimento e atendimento jurídico gratuito contra a violência doméstica e de gênero. Desse total, 385 vítimas conseguiram medidas protetivas tendo suas vidas preservadas.
Em 2025, o Sindicato definiu o tema Construindo o Futuro com Igualdade, para o Mês da Mulher. Uma busca constante que começou há mais de 100 anos e seguirá sempre enquanto essa equidade não for alcançada para todas.

Um pouco dessa história em vídeo